25 de abril de 2012

Recordando



"O golpe de Estado termina e a revolução ainda não começou: os meses que seguem  são uma pausa. Mas antes, principalmente em Lisboa e no Porto, o povo vai finalmente dar-se conta de que desta vez alguma coisa mudou, e o 1° de Maio de 1974 é uma impressionante e comovedora manifestação de alívio; os cravos vermelhos, o novo símbolo, presentes em toda a parte, mesmo no cano das armas; é o momento em que a fraternidade parece possível. Dias antes, a chegada de Mário Soares a Lisboa tinha sido comovente e triunfal, uma enorme multidão esperava-o em lágrimas, sorrindo, e aos brados de vitória.. Logo a seguir Álvaro Cunhal, para os não comunistas um desconhecido, o homem que vinha dos longos anos de prisão – catorze no total e oito em encerramento solitário – que escapara em 1961 da prisão de Peniche e cuja vida, desde então, tinha sido um mistério.

Álvaro Cunhal desembarca no aeroporto e os portugueses têm dificuldade em acreditar no que vêem: a foice e o martelo são o pano de fundo. A recepção é triunfal também, mas mais sóbria, os punhos erguidos mostram uma determinação disciplinada, contida, só algumas vozes se embargam quando milhares entoam o que tinha sido o hino da clandestinidade comunista:

"Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz.
Avante, camarada avante,
O sol brilhará p'ra todos nós".

Um detalhe não escapa àqueles que, atentamente, seguem os acontecimentos: os militares, que não esperaram Soares, vão esperar Cunhal. Sobre um carro blindado, acompanhado por soldados que erguem o punho, rodeado de uma multidão que, pela primeira vez em mais de cinquenta anos pode confessar livremente o credo comunista, o secretário-geral do PCP entra em Lisboa.

Um slogan anda em todas as bocas: "O povo unido, jamais será vencido!"Mas o povo, a falar verdade, ainda mal sabe o que se passa, e por enquanto não se encontra unido a ninguém, nem a coisa nenhuma. Às vilas da província, às aldeias, mal chegam ecos do que se passou em Lisboa. Os emigrantes, num reflexo de defesa – mudança é sempre insegurança – suspendem as remessas de dinheiro e ordenam às família que levantem quanto dinheiro têm no banco, "pois dizem que os comunistas nos vão tirar tudo".

É a triste ignorância dos pobres, a qual se mede ainda melhor quando se sabe que durante meses, de aldeia para aldeia, corre e é tomado a sério, o boato de que o governo dos comunistas irá confiscar as panelas de pressão."
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in "Portugal, a Flor e a Foice" – inédito; edição neerlandesa: "Portugal, de Bloem en de Sikkel" – Arbeiderspers, Amsterdam, Novembro 1975.

Original: http://tempocontado.blogspot.pt/

Donos de Portugal

Temos o que merecemos!


Esta do "temos o que merecemos" é que está a mais.

Filho de Fernando Negrão...O pai um dos moralistas contra os boys.



Nova habilitação profissional: O Engraxanço e o Culambismo Português


Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele.

Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia.

Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alunos engraxavam os professores,os jornalistas engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc... Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso.

Nesse tempo, «engraxar» era uma actividade socialmente menosprezada. O menino que engraxasse a professora tinha de enfrentar depois o escárnio da turma. O colunista que tecesse um grande elogio ao Presidente do Conselho era ostracizado pelos colegas.Ninguém gostava de um engraxador.

Hoje tudo isso mudou. O engraxanço evoluiu ao ponto de tornar-se irreconhecível. Foi-se subindo na escala de subserviência, dos sapatos até ao cu. O engraxador foi promovido a lambe-botas e o lambe-botas a lambe-cu. Não é preciso realçar a diferença, em termos de subordinação hierárquica e flexibilidade de movimentos, entre engraxar uns sapatos e lamber um cu. Para fazer face à crescente popularidade do desporto, importaram-se dos Estados Unidos, campeão do mundo na modalidade, as regras e os estatutos da American Federation of Ass-licking and Brown-nosing.Os praticantes portugueses puderam assim esquecer os tempos amadores do engraxanço e aperfeiçoarem-se no desenvolvimento profissional do Culambismo.

(...) Tudo isto teria graça se os culambistas portugueses fossem tão mal tratados e sucedidos como os engraxadores de outrora. O pior é que a nossa sociedade não só aceita o culambismo como forma prática de subir na vida, como começa a exigi-lo como habilitação profissional. O culambismo compensa. Sobreviver sem um mínimo de conhecimentos de culambismo é hoje tão difícil como vencer na vida sem saber falar inglês.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

20 de abril de 2012

LEMBREM-SE DE QUEM FOI CAVACO SILVA


Para os que têm memória curta!

"Em 1980 Cavaco Silva, então ministro das Finanças,
Sobe os gastos orçamentais, valoriza o escudo, aumenta as importações. O défice das transacções correntes sobe de 5% do PIB em 1980 para 11,5% em 1981 e 13,2% em 1982. A dívida externa aumenta de 467 milhões de contos em 1980 para 1199 milhões em 1982. Perante o descalabro, em 1983, o novo governo da AD vê-se obrigado a subir as taxas de juro 4 pontos, e a vender 50 toneladas de ouro para financiar as contas externas. O desnorte é total.

Desmantelamento do sector das pescas, silvicultura e da agricultura em Portugal, a troco de ajudas financeiras da UE. A maioria dos agricultores e pescadores passaram a receber para não produzirem, arrancarem árvores (vinhas, oliveiras, árvores de fruto, etc.) ou abandonarem a sua actividade piscatória, contribuindo desta forma para o aumento da dependência alimentar de Portugal de países como a Espanha e França.

Entrega de toneladas de ouro do Banco de Portugal a uma empresa norte-americana que terminou na falência, uma operação conduzida por Cavaco Silva e o ministro Tavares Moreira."

É preciso ter lata para vir agora aconselhar o aumento da produção agrícola!

Como diria o Ribeirinho – "Ou estás taralhoco ou estás a fazer poucachinho de mim!"

UGT

No cinema Lumiar, em Lisboa, é criada a UGT, cujo Congresso Constitutivo teve lugar no Porto, nos dias 27 e 28 de Janeiro de 1979.

Cerca de um mês depois uma delegação do secretariado da UGT desloca-se aos EUA a convite da AFL-CIO.

Naquele mês de Janeiro de 1979 vêm a lume inúmeras referências à drenagem de dinheiro destinado a fomentar o divisionismo sindical.

No dia 4, a pergunta do jornal o Tempo

- «E como interpretar certos boatos de acordo com os quais a UGT receberia dinheiro da CIA?» mereceu a seguinte resposta de Torres Couto:
- «De qualquer maneira é certo que não se fazem omeletes sem ovos».

No dia 12, em declarações ao Jornal, Gonelha refere textualmente:
- «Pois bem, eu não escondo: quem tem apoiado parte das acções da UGT, somos nós, a José Fontana». (…) «O que se pode dizer é que da fraternidade e da solidariedade do SPD alemão, o Partido Socialista Português recebe colaboração e a ajuda para a José Fontana.

É a Fundação Friederich Ebert, é o Partido Social Democrata Alemão (…). Eles auxiliam apenas com o objectivo de que em Portugal se implante a democracia e os ideais do socialismo democrático». (…) E não põem qualquer condição».

No dia 16, o jornal O Diário refere que, em Frankfurt, numa reunião havida entre Gonelha e E. Kastleiner, membro da Presidência Federal do Sindicato da Indústria da Construção Civil, este ter garantido ajuda financeira à estrutura similar em Portugal, ligada à UGT.

Esta drenagem de dinheiro não se quedou no contexto do Congresso Constitutivo da UGT.

No rescaldo do II Congresso, o conhecido agente da CIA, Irving Brown, envia, da Suíça, um cheque de 10 000 dólares a Torres Couto, verba que subiu aos 30 000 contos em 1984, como prova da solidariedade da AFL-CIO e da Agência para o Desenvolvimento Internacional (AID), de acordo com declarações à NP, em 27/11/85, por Rui Oliveira e Costa, na altura dirigente da UGT.

Este valor pecava, certamente, por defeito, na medida em que, em 29/11/85, o Jornal, fazendo eco do Libération, divulgava que: «Algumas fontes estimam que o montante recebido pela UGT poderá atingir 800 mil dólares».

É neste círculo de amizades e de fluxos financeiros que se move a UGT, a organização sindical que subscreveu o acordo da troika.

Enquanto isso, existem trabalhadores a financiar quem rouba os seus direitos...

16 de abril de 2012

Ahh, se tivessemos mar...




Da crónica de João Quadros no Negócio On-Line:

"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses."

Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco. Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.

Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia, sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti? Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.

Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano. Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras? fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.

Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.

Eu, às vezes penso: o que não poupávamos se Portugal tivesse mar.

15 de abril de 2012

A recessão em Portugal já é pior do que na Irlanda ou na Grécia

Aníbal, um pobre reformado...


Jogando... e ensinando

Ele voltou...

A cabra, a mulher e o pastor...


Um jornalista entrevista um pastor:

- Ora conte-me lá uma história que se tenha passado nesta zona e que seja qualquer coisa de inesquecível!

O pastor sorri e conta:

- Olhe, uma vez, uma das minhas cabras perdeu-se na montanha! Ora como manda a tradição, a malta cá da terra juntou-se para beber e sair à procura da cabra. Lá pelas tantas da manhã lá a encontramos, só que já tínhamos bebido tanto, mas tanto... que fizemos todos sexo com a cabra! Um por um! Foi de nunca mais esquecer! Inesquecível, não é?

- Bem... realmente é uma história inesquecível, sim, mas duvido que a consiga publicar... Olhe, conte-me então uma história que se tenha passado nesta terra e que seja uma história feliz! Pode ser?

O pastor sorri e conta:

- Pode ser, ora pois! Olhe, uma vez, a mulher aqui do vizinho perdeu-se na montanha... Ora, como manda a tradição, a gente junta-se, bebe uns copos, e toca de ir à procura da gaja! Encontrámo-la já bem tarde, já noite dentro! E ora como estávamos todos com uns copitos a mais... montamos todos a gaja! Um por um! Foi um dos dias mais felizes da minha vida! Da minha e da dos outros gajos todos! Só menos do marido...

- Bem... Estou a perceber porque é que é uma história feliz mas também não me parece que consiga publicar essa. Vamos fazer antes o seguinte, você pode-me contar uma história bem triste que se tenha passado cá na zona?

O pastor fica um pouco sério, baixa a cabeça, deixa cair duas lágrimas e diz:

- Bem... uma vez eu perdi-me na montanha...

Marinaleda: um modelo de autogestão é único na Europa



Andrea Duffour

Desde o alerta do Google “alternativas ao capitalismo” Eu descobri recentemente a existência de Marinaleda, uma cidade de 2645 habitantes em Andaluzia "em que Marx viveria se ele ainda estivesse vivo, com zero de desemprego polícia, zero e habitação para 15 euros por mês"(1). Uma alternativa ao capitalismo feita dentro de 2000 km de nossa casa e que funciona há mais de 30 anos sem que eu não já tivesse ouvido falar? Na primeira oportunidade, por isso é mochila, ônibus, trem e carona eu vou verificar se é uma utopia, muito bonita...

Como é Páscoa, corri plena “Semana Santa”. Na aldeia vizinha foi-me dito: “O prefeito é um tolo, enquanto nós”, espanhóis, fazemos as procissões religiosas, eles festejam durante 5 dias”

Eu aprendo que o festival da paz que cai durante a Semana Santa é na verdade uma tradição de muitos anos e muitos jovens de Sevilha, Granada e Madrid juntaram-se os aldeões. Leituras, filmes ou uma conferência de solidariedade com a Palestina, assim como um boicote aos produtos israelenses abrir o concerto à noite e celebração. Para as noites, o enorme complexo poli-atleta permanece aberta para acomodar os visitantes de fora. O primeiro albergue está em construção.

Como membro da Associação de Suíço-Cuba solidariedade, fui transferido para ver se havia realmente uma experiência socialista algo semelhante à revolução cubana, aqui na Europa e eu tenho a minha conta.

O direito à terra e trabalho

A Marinaleda também, tinha que primeiro passar por uma reforma agrária. “A luta revolucionária do povo cubano tem sido uma luz para todos os povos do mundo e temos uma grande admiração por suas realizações", explica Juan Manuel Sanchez Gordillo, prefeito comunista, eleito por 31 anos. Ele foi o mais jovem eleito na Espanha em 1979. Em 1986, após 12 anos de lutas e ocupações onde as mulheres têm desempenhado o papel principal, esta vila conseguiu obter 1.200 hectares de terra de grande latifúndio, a terra que foi imediatamente redistribuídos e transformada em cooperativa agrícola e em que agora vive a maior parte da aldeia. “A terra não pertence a ninguém, a terra não pode ser comprado, a terra pertence a todos!”.

A cooperativa agrícola, EL HUMOSO, parceiros 6h30m de trabalho por dia, de segunda a sábado, resultando na semana de 39 h. Todos têm o mesmo salário, independente da função. 400 pessoas da aldeia se juntaram a eles durante os meses de novembro a janeiro (azeitonas), e 500 em abril (feijão).

A Colheita (azeite extra virgem, alcachofras, pimentos, etc.) é produzida à mão e embalada em caixa ou garrafa na pequena fábrica Humar Marinaleda na aldeia, na qual trabalham 60 mulheres e 4-5 homens conversando em um ambiente descontraído. Tudo é vendido principalmente em Espanha. Uma parte do azeite é vendido para Itália, onde mudam o rótulo e vendem-no com outro nome. “Temos a melhor qualidade, mas infelizmente são eles que têm os canais para o mercado", explica um dos trabalhadores agrícolas. Assim, a visão alternativa de nossas lojas para oferecer-lhes um mercado directo…

Os benefícios da cooperativa não são distribuídos, mas reinvestido para criar empregos. Parece tão simples, mas é por isso que a aldeia não é conhecida a sofrer o desemprego. Ao falar com as pessoas, eu aprendi que em determinados momentos do ano não há trabalho suficiente na agricultura para todos, mas os salários ainda são pagos. Como em Cuba, habitação, trabalho, cultura, educação e saúde são considerados um direito. Um lugar no infantário com todas as refeições incluídas custa 12 euros por mês. Mais uma vez, lembra Cuba, onde a educação é livre, desde creche à universidade.

Casas “auto-construídas”

Mais de 350 casas foram construídas pelos próprios habitantes. Não há nenhuma discriminação e a única condição para a atribuição é não possuírem um alojamento. O município oferece terra livre e os conselhos de um arquitecto, faz um empréstimo de materiais. As casas são de 90m2, dois banheiros e um espaço individual de 100m2 onde podemos plantar legumes, fazer churrascos, ou para ampliar sua garagem, quando necessário. Como em algumas áreas em Cuba, um grupo de futuros vizinhos juntos por um ano a construção de uma fileira de casas geminadas, sem saber o que será deles. Habitação Uma vez atribuído, acabamentos, localização de portas, as aberturas podem ser individualizadas para cada família. O aluguer é decidido numa reunião do colectivo. Ele foi estipulado em menos de 16 euros por mês. Os fabricantes tornam-se proprietários das casa, mas nunca podem ser revendidas. (Para além da auto-construção, conheci uma família que aluga por 24 euros por mês e ao trabalhador só da fábrica Humar Marinaleda, que vem de fora e que pagam 300 euros pela sua habitação, pessoas que pretendam viver em Marinaleda devem passar dois anos de “estagio” antes de uma decisão final).

O barbeiro, que é mais uma parte da oposição minoritária, possui a sua casa e reclamou ter que trabalhar de qualquer maneira. Para a minha pergunta, porque não vender a casa dele para uma das muitas famílias espanholas que gostariam de se juntar a esta aldeia, ele diz que também existem as vantagens de ficar aqui. (A oposição seria financiado pelo PSOE,”Partido Obrero Espanhol socialisto”, de acordo com algumas fontes).

Neste sábado de Páscoa, as pessoas interessadas são convidadas para uma pequena conferência, na prefeitura. O prefeito explica seus pontos de vista sobre várias questões antes de responder às nossas perguntas. Seguem-se excertos ou resumos:

Organizar

"Temos de lutar unidos Internacionalmente, estamos conectados com a Via Campesina, e então organizados em sindicatos e politicamente", nos comunicamos o prefeito. Esperanza, 30 anos, um professor pelo conselheiro profissão, voluntária social do município, eu já havia explicado isso na "união" anterior, bar e ponto de encontro para a cidade: "Aqui é a mudança do fundo, com o sáb, trabalhadores sindicalizados da Andaluzia, ex-SOC união fundada em 76, logo após Franco, e com a CUT, a unidade do trabalho coletivo, anti-capitalista do partido".

Nenhum policia

"Nós aqui não temos nenhum policia - seria um desperdício desnecessário "As pessoas não querem vandalizar sua própria aldeia." Nós não temos nenhum sacerdote, gracias a Dios!", brincou o prefeito. Liberdade de religião é garantida e ainda que um pouco tímida a procissão religiosa desfila discretamente, sem espectadores, na vila evitando a grande festa.

Capitalismo

"Crise? O sistema capitalista sempre foi um fracasso, a crise não começou ontem. A vantagem da crise: o mito do mercado caiu (...) A realidade é sempre a mesma: cerca de 2%, 50% da terra (...). Aqueles que querem reformar o capitalismo querem mudar tudo, para que nad mude! No capitalismo, existem sindicatos do regime e não os sindicatos de classe, há muitos instrumentos de alienação, sem liberdade de expressão, liberdade de aquisição apenas (...) A Marinaleda, será o primeiro quando se trata de luta e a última na hora dos lucros.”

Democracia

"Nós praticamos uma democracia participativa, decidimos tudo, desde impostos para gastos, em grandes assembleias. Muitos chefes dão um monte de ideias. Nosso povo também sabe que nós podemos trabalhar para outros valores que não apenas por dinheiro. Quando precisamos ou queremos, nós organizamos um vermelho Domingo: por exemplo, certamente domingo após a festa, haverá uma abundância de jovens voluntários que irá limpar ou preparar o pequeno-almoço para as crianças e tudo isso para o prazer de estarem juntos e ter uma comunidade limpa (...).A democracia deve ser económico e social, não apenas político. Quanto à democracia política, a maioria 50% +1 é inútil. Para uma verdadeira democracia, deve haver pelo menos 80-90% dos membros e uma ideia. Além disso, todos os nossos escritórios políticos são todos não remunerado . "

Lutas futuras e multas episódio

O prefeito chamados a participar na greve geral anunciada pela SA para 14 de abril, em solidariedade com os sem-terra na Andaluzia, que ainda não beneficiam de seu direito à terra e também para as nossas reivindicações, para nós. Ele também defende a necessidade de nacionalizar os bancos, transportes, energia, etc. Precisamos de 20-30 milhões de pesetas para as nossas lutas diferentes...

Cultura, festivais

"Nós fazemos um monte de partes comuns com as refeições gratuitas, e há sempre voluntários suficientes para organizá-la. A alegria e a celebração deve ser uma lei, e livre para todos.Esta não é uma mídia de maionese que irão ditar o que deve agradar a nós, temos uma cultura para nós."

Experimento social único na Europa

Com um solo que não é mais do que uma mercadoria, mas tornam-se um direito para aqueles que querem cultivar ou, uma casa por 15 euros por mês, desporto ou cultura, ou quase livre (piscina municipal 3 € para a temporada), uma sensação de bem-estar da comunidade, eu acho que eu posso dizer que Marinaleda é uma experiência única na Europa.

Todos os sábados o perfeito responde a perguntas dos moradores e agora na as conversas na cidade são sobre o canal de TV Local. Isso nos lembra do programa "Alô Presidente"de Hugo Chavez, outro líder para que Gordillo expressou admiração.

Informação errada

Apaga TV, enciende tu Mente- Desligue a TV, ligue o cérebro, o que me impressionou a primeira parede, até que se depara com a televisão local ... A minha questão relacionada à desinformação, Juan Miguel Sanchez Gordillo me anunciou seu plano de escrever um livro sobre "Los prensatenientes"- a meia dúzia que tem meios transnacionais no mundo. "Enquanto os panfletos escritos pela esquerda que ninguém lê, a direita capitalista, a grande burguesia, instala-se em sua casa cheia de canais de TV que transmitem os mesmos valores e propaganda. (...) Em termos de informação, a educação é muito importante"e, sobre o programa nacional de educação, isso não combinava com ele. Manuel Sanchez Gordillo John diz que ele chegou tão cedo na Suíça para estudar o nosso sistema de ensino é organizado a nível cantonal ...Provavelmente ele acha que somos uma verdadeira democracia com o currículo independente do ...

Experiências alternativas ao capitalismo que assustam

Em comparação com a mídia, a pergunta que eu me pergunto novamente é: Por experiência Marinaleda é tão pouco conhecida em Espanha, bem como dos pais de nossa cidade? Por Cuba, caso exemplar a nível mundial em termos de desinformação, merece um orçamento anual de US $ 83 milhões dos Estados Unidos dedicado exclusivamente para o financiamento de desinformação e ataques contra este pequeno país?

Existem alternativas ao capitalismo que longo prazo e têm tanto medo de algum?

Andrea Duffour

Associação Suíça-Cuba http://www.cuba-si.ch

Ver:

http://www.legrandsoir.info/Marinaleda-un-modele-d-auto-gestion-unique-en-Europe.html

http://www.legrandsoir.info/Un-village-andalou.html

11 de abril de 2012

Este texto é de Isabel do Carmo (médica). E tem toda a razão.


O primeiro-ministro anunciou que íamos empobrecer, com aquele desígnio de falar "verdade", que consiste na banalização do mal, para que nos resignemos mais suavemente. Ao lado, uma espécie de contabilista a nível nacional diz-nos, como é hábito nos contabilistas, que as contas são difíceis de perceber, mas que os números são crus. Os agiotas batem à porta e eles afinal até são amigos dos agiotas. Que não tivéssemos caído na asneira de empenhar os brincos, os anéis e as pulseiras para comprar a máquina de lavar alemã. E agora as jóias não valem nada. Mas o vendedor prometeu-nos que... Não interessa.

Vamos empobrecer. Já vivi num país assim. Um país onde os "remediados" só compravam fruta para as crianças e os pomares estavam rodeados de muros encimados por vidros de garrafa partidos, onde as crianças mais pobres se espetavam, se tentassem ir às árvores. Um país onde se ia ao talho comprar um bife que se pedia "mais tenrinho" para os mais pequenos, onde convinha que o peixe não cheirasse "a fénico". Não, não era a "alimentação mediterrânica", nos meios industriais e no interior isolado, era a sobrevivência.

Na terra onde nasci, os operários corticeiros, quando adoeciam ou deixavam de trabalhar vinham para a rua pedir esmola (como é que vão fazer agora os desempregados de "longa" duração, ou seja, ao fim de um ano e meio?). Nessa mesma terra deambulavam também pela rua os operários e operárias que o sempre branqueado Alfredo da Silva e seus descendentes punham na rua nos "balões" ("Olha, hoje houve um ' balão' na Cuf, coitados!"). Nesse país, os pobres espreitavam pelos portões da quinta dos Patiño e de outros, para ver "como é que elas iam vestidas".

Nesse país morriam muitos recém-nascidos e muitas mães durante o parto e após o parto. Mas havia a "obra das Mães" e fazia-se anualmente "o berço" nos liceus femininos onde se colocavam camisinhas, casaquinhos e demais enxoval, com laçarotes, tules e rendas e o mais premiado e os outros eram entregues a famílias pobres bem- comportadas (o que incluía, é óbvio, casamento pela Igreja).

Na terra onde nasci e vivi, o hospital estava entregue à Misericórdia. Nesse, como em todos os das Misericórdias, o provedor decidia em absoluto os desígnios do hospital. Era um senhor rural e arcaico, vestido de samarra, evidentemente não médico, que escolhia no catálogo os aparelhos de fisioterapia, contratava as religiosas e os médicos, atendia os pedidos dos administrativos ("Ó senhor provedor, preciso de comprar sapatos para o meu filho"). As pessoas iam à "Caixa", que dependia do regime de trabalho (ainda hoje quase 40 anos depois muitos pensam que é assim), iam aos hospitais e pagavam de acordo com o escalão. E tudo dependia da Assistência. O nome diz tudo. Andavam desdentadas, os abcessos dentários transformavam-se em grandes massas destinadas a operação e a serem focos de septicemia, as listas de cirurgia eram arbitrárias. As enfermarias dos hospitais estavam cheias de doentes com cirroses provocadas por muito vinho e pouca proteína. E generalizadamente o vinho era barato e uma "boa zurrapa".

E todos por todo o lado pediam "um jeitinho", "um empenhozinho", "um padrinho", "depois dou-lhe qualquer coisinha", "olhe que no Natal não me esqueço de si" e procuravam "conhecer lá alguém".

Na província, alguns, poucos, tinham acesso às primeiras letras (e últimas) através de regentes escolares, que elas próprias só tinham a quarta classe. Também na província não havia livrarias (abençoadas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian), nem teatro, nem cinema.

Aos meninos e meninas dos poucos liceus (aquilo é que eram elites!) era recomendado não se darem com os das escolas técnicas. E a uma rapariga do liceu caía muito mal namorar alguém dessa outra casta. Para tratar uma mulher havia um léxico hierárquico: você, ó; tiazinha; senhora (Maria); dona; senhora dona e... supremo desígnio - Madame.
Os funcionários públicos eram tratados depreciativamente por "mangas-de-alpaca" porque usavam duas meias mangas com elásticos no punho e no cotovelo a proteger as mangas do casaco.

Eu vivi nesse país e não gostei. E com tudo isto, só falei de pobreza, não falei de ditadura. É que uma casa bem com a outra. A pobreza generalizada e prolongada necessita de ditadura. Seja em África, seja na América Latina dos anos 60 e 70 do século XX, seja na China, seja na Birmânia, seja em Portugal