11 de outubro de 2011

A Crise do capitalismo e a perspectiva revolucionária na Hungria


Dr. Gyula THÜRMER,

Presidente do Partido Comunista Operário Húngaro

Tanto na Europa como na Hungria, as forças capitalistas realizam enormes esforços para ocultar o fato de que o capitalismo contemporâneo está em uma profunda crise. Não podem negar a existência de sérios problemas do capitalismo, mas tentam demonstrar que todos esses problemas podem ser solucionados dentro do próprio capitalismo e através de reformas capitalistas. A verdade é que a importante crise interna do capitalismo não pode ser solucionada através de reformas capitalistas tradicionais. Torna-se cada vez mais real a perspectiva revolucionária para solucionar os problemas do capitalismo.

A Hungria é um dos elementos mais frágeis do capitalismo europeu contemporâneo. O capitalismo húngaro está numa profunda crise, independentemente da crise mundial. Mas esta crise está se intensificando em virtude da crise geral do capitalismo. A crise está longe de ser resolvida, e ninguém pode prever suas consequências. Sob essas condições, não só devemos criticar o sistema, mas também devemos, ao mesmo tempo, demonstrar ao povo a possibilidade real de criar um novo mundo. Devemos demonstrar que o socialismo é uma alternativa real ao capitalismo existente.

Isto significa que, na Hungria, o movimento comunista deve entrar numa nova situação, o que representa o surgimento de novas possibilidades e novas tarefas.

A Crise do Capitalismo Húngaro

O capitalismo húngaro está em crise, e a crise geral do capitalismo faz com que a crise húngara seja ainda mais profunda. A crise do capitalismo húngaro contemporâneo pode ser explicada pelos seguintes fatores:

1. A imensa maioria dos setores da economia, tais como a indústria, o sistema financeiro, o comércio e os serviços húngaros foram vendidos para o capital estrangeiro.

A Hungria foi o primeiro país da Europa Central e Oriental a abrir sua economia para investidores estrangeiros em 1989. Conforme as estatísticas da organização da ONU encarregada dos investimentos estrangeiros (UNCTAD), no final dos anos 90 o investimento estrangeiro direto (IED) na Hungria somava 1,7% do PIB. Hoje esta proporção chega a mais de 70%. Na União Européia esta proporção é de apenas de 40,9%, e na Romênia é de 36,7%.

Quase 100% dos bancos pertencem ao capital estrangeiro. 80% da produção industrial procede de companhias multinacionais. A economia húngara depende muito mais do capital estrangeiro que qualquer outro país da Europa. Depois de 2011, existe o perigo real de que a superfície agrícola húngara possa ser comprada pelo capital estrangeiro.

O papel decisivo do capital estrangeiro é uma das características do capitalismo húngaro. Faz 20 anos, a contrarrevolução capitalista foi resultado da atividade do capitalismo internacional, da traição interna das forças revisionistas do partido comunista no poder e da atividade da oposição burguesa.

Não havia uma classe dominante húngara forte. A nova classe foi criada, de certa forma, a partir de elementos da antiga elite governante do sistema socialista, aqueles que utilizaram sua política para tomar parte ativa na privatização da propriedade estatal, assim como, de certa forma, a partir de intelectuais e empresários do período socialista e, em parte, também, por novas gerações que apareceram em cena nas últimas décadas.

O extraordinariamente importante papel do capital multinacional é resultado de diferentes momentos. Em primeiro lugar, as forças capitalistas eram conscientes do fato de que o período de socialismo havia sido um período exitoso na história húngara e que as forças sociais da sociedade socialista, a classe operária e os trabalhadores rurais cooperativistas, eram muito fortes. As forças capitalistas estavam interessadas em liquidar estas classes e grupos sociais. Só viram um caminho: engajar-se ao capital internacional. Em segundo lugar, os intelectuais liberais sempre foram voltados para os Estados Unidos, Israel e para as forças capitalistas multinacionais e sempre consideraram o importante papel do capital estrangeiro como algo absolutamente normal.

Todos os governos húngaros apoiaram os investimentos estrangeiros, ao dar subvenções recomendadas por decisões governamentais, promover isenções de impostos, conceder subvenções para a formação e a criação de empregos, etc.

A classe capitalista húngara está formada por diferentes grupos. Em primeiro lugar, um pequeno, porém, influente grupo de grandes capitalistas que têm posição na área financeira, no comércio e nos serviços. Estão vinculados estreitamente ao capital multinacional. Em segundo lugar, centenas de milhares de micro, pequenos e médios empresários nos âmbitos da indústria e do comércio. Sua posição é muito frágil. Estão sob a pressão do capital da UE e do capital chinês. Sem um grande apoio estatal, estão condenados à morte.

Estes fatos, agora que o sistema capitalista está em crise, têm importantes consequências. Em primeiro lugar, o capital estrangeiro controla as áreas básicas da economia húngara. Tem poder absoluto na área financeira e controla a área mais sensível, o comércio interno. Já que não há uma forte produção nacional, há poucas possibilidades de que a Hungria se defenda por seus próprios meios. Pode-se ver claramente que as companhias multinacionais, ao tentar resolver seus próprios problemas, reduzem a produção e fecham suas fábricas na Hungria, o que contribui para o crescimento do desemprego.

2. A brecha entre ricos e pobres na sociedade ficou enorme. Esta é a outra razão da crise do capitalismo húngaro. A acumulação primitiva de capital fez com que o povo fosse privado de seus recursos. É resultado da política de inflação, da política fiscal e da política de crédito dos governos capitalistas dos últimos 20 anos.

A Hungria tem uma população de 10 milhões de habitantes, 9 milhões dos quais podem ser considerados como pessoas que vivem em condições de vida muito precárias ou, inclusive, em condições de pobreza, e somente um milhão deles podem se considerar beneficiados com as mudanças sociais, com a entrada na UE, etc.

Como mostram as seguintes cifras, o número dos desesperadamente pobres, de quem vive abaixo do umbral da pobreza, aumentou drasticamente nos últimos anos. (O umbral de pobreza é a soma dos rendimentos de uma família que permite a seus membros alimentar-se e vestir-se, e pagar por calefação e eletricidade). Em 1993, segundo estatísticas confiáveis, 27% da população húngara vivia abaixo do umbral de pobreza. Na Hungria havia aproximadamente um milhão de pobres em 1980. Hoje, seu número excede os 2,5 milhões. A décima parte mais rica da sociedade faz 7,3 vezes mais dinheiro que a décima parte mais pobre. Talvez sejam as crianças as que estejam em situação mais difícil, pois quase a metade da população com menos de 18 anos vive numa família que se encontra abaixo do umbral de pobreza. Nos últimos anos, em 53% dos lares o salário real baixou. Isto significa que, nestas famílias, o aumento dos rendimentos foi menor que o aumento dos preços.

Está aumentando o número dos chamados pobres de longo prazo. Os pobres de longo prazo na Hungria provêm de distintos grupos sociais: os sem-teto, a população rural, especialmente os que vivem em micro-comunidades, os desempregados ou expulsos do mercado de trabalho, os lares com mais de três crianças, as famílias com apenas um dos genitores, as anciãs solteiras e a população cigana. Um terço dos pobres de longo prazo é de etnia cigana, embora este grupo só represente 5% da população húngara.

Nos primeiros meses de 2009, a renda média na Hungria foi de 402 euros. Os trabalhadores manuais percebem 295 euros; os intelectuais, 511 euros. O salário mínimo é de 250 euros. Temos que levar em conta que os preços de consumo são praticamente iguais aos da UE.

Nos últimos 20 anos, a classe operária perdeu suas economias obtidas na época socialista. Agora os trabalhadores utilizam suas últimas reservas, e muitos deles já não têm mais reservas. Pode-se dizer o mesmo dos intelectuais, dos professores e dos trabalhadores da área da saúde. A maioria da classe operária e os intelectuais se endividaram amplamente para comprar um apartamento, um carro, uma televisão ou simplesmente para cobrir os custos da vida diária. Esses grupos sociais não podem mobilizar novos recursos para fazer frente às consequências da atual crise.

3. A terceira razão e elemento característico da crise no capitalismo húngaro é o extraordinário alto nível de corrupção.

A Hungria é o número 39 na lista de 179 países relacionados no índice de Corrupção da Transparência Internacional, em 2007. Apesar das leis anticorrupção, a falta de transparência cria contínuos rumores sobre casos de corrupção na gestão do governo.

As razões destes fenômenos estão vinculadas ao próprio capitalismo húngaro. Em primeiro lugar, a privatização da propriedade estatal foi praticamente um roubo livre. Agora, os diferentes círculos políticos e econômicos lutam por uma maior participação no dinheiro da UE, nas ordens estatais e nos investimentos centrais. Em segundo lugar, o sistema legal é muito confuso, o que beneficia aos que atuam na economia informal. Hoje em dia, aproximadamente 30% do PIB é produzido na economia informal. Em terceiro lugar, o atual sistema político e legal é o resultado de acordos entre diferentes grupos da classe capitalista realizados há 20 anos. Muitos de seus elementos já perderam sua validez. Como resultado dessa situação, o Estado capitalista não pode cumprir algumas funções básicas, incluindo o trabalho policial, a administração local, etc.

Possíveis vias de desenvolvimento

O desenvolvimento futuro do capitalismo húngaro depende do desenvolvimento capitalista internacional e dos processos que envolvem os diferentes grupos sociais da Hungria.

1. As forças capitalistas internacionais não querem perder a Hungria. A Hungria foi um dos primeiros países a trocar o socialismo pelo capitalismo, e serviu como exemplo para a política dos Estados Unidos e da Alemanha, como uma forma de contrarrevolução pacífica. Esta é uma razão. A segunda é que o capital internacional investiu grandes somas de dinheiro na Hungria. Atualmente, as dívidas da Hungria chegam a 97% do PIB do país. As forças capitalistas internacionais querem recuperar seu dinheiro e por isso estão dispostas a ajudar. Em 2009, a Hungria recebeu 20 bilhões de euros como créditos stand-by.

O FMI e as forças capitalistas internacionais querem uma situação política mais ou menos estável na Hungria, para o que pedem a repressão a qualquer movimento anticapitalista, mas utilizando meios “de acordo com as normas da UE”. A administração Obama parece entender, melhor que os países da UE, que o colapso do capitalismo húngaro pode conduzir a uma série de colapsos na região. Mas ainda não conseguiu convencer seus sócios da UE a investir muito mais dinheiro na consolidação do capitalismo húngaro.

Para os Estados Unidos é indiferente que grupo da classe capitalista governe politicamente a Hungria. De qualquer governo húngaro é exigida absoluta fidelidade aos Estados Unidos e à OTAN, assim como a participação nas missões militares da OTAN. Na política interna, a administração dos Estados Unidos espera uma luta consequente e exemplar contra o antissemitismo e as forças comunistas.

Os países dirigentes da UE não expressam especial preocupação com a situação dos capitalistas húngaros. Estão convencidos, a partir de sua própria experiência, de que, numa Hungria pertencente à UE e à OTAN, não pode haver revoluções sociais, nem sequer levantes sociais de grande envergadura. Os diferentes grupos políticos da UE expressam sua simpatia por diferentes partidos políticos da Hungria. Parece que tanto a Alemanha quanto a França não estão satisfeitos com a atuação do partido Socialista Húngaro e não se oporiam a uma mudança de governo.

2. A classe capitalista húngara está formada por diferentes grupos. O Partido Socialista Húngaro (MSZP) e a Aliança de Democratas Livres (SZDSZ) representam o grande capital que está estreitamente relacionado com o capital multinacional. Tradicionalmente, estão voltados política e economicamente para os Estados Unidos e Israel.

A coalizão dos socialistas e liberais foi uma ótima solução para as forças capitalistas internacionais durante muito tempo. A Hungria participa ativamente em todas as ações militares iniciadas pelos Estados Unidos e pela OTAN, de Kosovo ao Afeganistão. A maior parte da economia húngara foi privatizada e vendida, em primeiro lugar, para o capital estrangeiro durante os governos desses partidos, entre 1994 e 1998, e desde 2002 até agora. O governo encabeçado pelo Partido Socialista Húngaro foi capaz de dividir os sindicatos que lutavam contra o governo e de garantir a “paz social”. Os socialistas foram capazes de subordinar ao MSZP todas as organizações políticas e civis de esquerda, com exceção do Partido Comunista Operário Húngaro. A coalizão dos socialistas e dos liberais declarou guerra ao antissemitismo e garantiu excelentes possibilidades de desenvolvimento para os que pertencem à comunidade judaica na Hungria. Segundo as estatísticas de diferentes organizações judaicas, na Hungria vivem entre 50.000 e 200.000 judeus. A taxa de casamentos entre judeus está em torno de 60%.

O governo MSZP-SZDSZ faz grandes esforços, entre outras coisas, para mudar a constituição e tornar ilegais “a negação do Holocausto e a incitação pública ao ódio racial”. O governo, preocupado pelo fato de a Hungria ter sido o lugar da Europa onde aconteceram alguns dos piores incidentes neonazistas dos últimos meses, planejou a reforma em resposta à indignação pública por estas provocações.

Apesar de todos esses acontecimentos, as forças capitalistas internacionais não estão satisfeitas com a atual atuação da coalizão socialista-liberal. A política econômica neoliberal levou a uma importante piora das condições de vida. Milhões de pessoas estão insatisfeitas e começam a expressar, de diferentes formas, sua atitude antigovernamental e, inclusive, anticapitalista. A piora das condições de vida fortaleceu duas tendências na Hungria: o antissemitismo e as ações contra os ciganos.

A Fidesz – União Cívica Húngara – representa, em grande parte, os pequenos e médios capitalistas, embora não rejeite o grande capital. Está mais direcionada à Europa e à UE, de um modo geral. A Fedesz, que foi originalmente um partido liberal, é hoje um partido que tenta unificar todas as forças conservadoras e nacionalistas. Coopera, estreitamente, com o Partido Popular Cristão-Democrata (KDNP).

Durante seu governo, entre 1998 e 2002, a Fidesz basicamente cumpriu as expectativas do capital internacional. A Hungria participou ativamente da guerra contra a Iugoslávia e o “processo de democratização” da Europa Oriental. A política do governo da Fidesz, de apoiar as demandas de autonomia nacional das minorias húngaras na Romênia, Eslováquia e outros países, fez com que recebesse críticas de alguns países da UE. Os círculos políticos dos Estados Unidos criticaram a Fidesz porque, segundo suas análises, não lutavam o suficiente contra o antissemitismo. A Fidesz, enquanto apoiava o capital multinacional, levou a cabo muitas medidas de apoio ao capital húngaro, principalmente aos capitalistas médios.

Desde 2002, a Fidesz demonstrou que é o maior partido da oposição e que é capaz de influenciar nos processos políticos na Hungria. Organizou as grandes manifestações antigovernamentais em 2005-2006 e impulsionou um referendo sobre assuntos básicos de política educativa e sanitária do governo MSZP-SZDSZ. O congresso da Fidesz declarou que é necessário criar uma “nova maioria”, incluindo não somente os aliados tradicionais da Fidesz, mas também outras forças políticas e também sindicatos e organizações civis.

Ao mesmo tempo, a Fidesz demonstrou que não quer exceder o marco da democracia parlamentar ou violar as normas gerais de comportamento político da UE. A Fidesz não apoiou as grandes manifestações sociais de 2007-2009, embora isso pudesse ter-lhes trazido bons resultados. A ideia de uma nova maioria não se concretizou, e a Fidesz não se abriu de forma clara a outros partidos.

Os dois grupos da classe capitalista húngara, representados pelos partidos políticos principais, têm interesses comuns e distintos. Todos eles estão interessados em manter o sistema capitalista. Não querem mudar o sistema político existente. Por isso, não se modificará o limite de 5% para entrar no parlamento. Todos os grupos da classe capitalista lutam para conseguir uma melhor posição nas privatizações, em obter dinheiro da UE e nos grandes investimentos estatais. Ao mesmo tempo, todos eles sabem que sua luta interna não pode ameaçar o interesse comum da classe capitalista. O MSZP quer manter o poder, e a Fidesz quer alcançá-lo. Ambos entendem que a União Europeia só permite utilizar métodos parlamentaristas.

O MSZP utiliza diferentes métodos para conservar o poder. Em primeiro lugar, interessa-lhes a atividade do Movimento por uma Hungria Melhor (Jobbik). O Jobbik é a força de choque da classe capitalista, desempenhando um papel similar ao que previamente desempenhou o MIÉP. O Jobbik cumpre diferentes funções. Ao utilizar os sentimentos nacionais e slogans radicais anticapitalistas, busca manipular as pessoas, sendo capaz, assim, de obter votos da Fidesz. Ao mesmo tempo utiliza outras “armas” não usadas por outros capitalistas: o anticapitalismo, o antissemitismo e as consignas contra os ciganos. Pode tirar votos também das forças comunistas. O Jobbik registrou a Magyar Gárda, o movimento extremista paramilitar Guarda Húngara, em junho de 2007, como “organização cultural” para “preparar a juventude, espiritual e fisicamente, para situações extraordinárias quando for necessário mobilizar o povo”. Conforme disse o Instituto Progressista em um relatório, há uma maior receptividade hoje na Hungria aos movimentos extremistas devido à pobreza e à perda de empregos resultantes da atual crise econômica.

Em segundo lugar, os socialistas tentam obter todos os votos de esquerda. Não puderam subordinar o Partido Comunista Operário Húngaro ao MSZP, mas foram capazes de criar, em 2006, o “Partido Operário Húngaro de 2006”, partido revisionista, que critica verbalmente o capitalismo, mas apóia o governo socialista-liberal;

Em terceiro lugar, ajudaram no nascimento de novas organizações como o partido “Pode haver outra política”, o qual, juntamente com o Partido Humanista, visa criar uma alternativa aos liberais.

3. Nestas condições, há duas vias básicas por onde pode transitar a sociedade húngara: a via do capitalismo e a via da revolução socialista.

Do ponto de vista da alternativa capitalista, é de decisiva importância o fato de que o campo de atuação do capitalismo húngaro esteja, principalmente, determinado pela enorme influência do capital multinacional na economia húngara, pela dependência política, militar e ideológica da Hungria com relação aos Estados Unidos, à OTAN e à UE.

Dentro do desenvolvimento capitalista – insistimos, dentro do capitalismo e não como alternativa ao mesmo – há diferentes rumos possíveis. Um deles é uma maior subordinação da Hungria ao FMI, à UE e a outros centros capitalistas. Os governos húngaros servirão aos interesses do capital multinacional liberando completamente todas as áreas do mercado húngaro, liquidando os restos das empresas húngaras e reprimindo qualquer forma de protesto das classes trabalhadoras. É a via de abandono pleno da soberania nacional da Hungria, a via de limitação e opressão dos direitos democráticos.

Esta política será mantida, se os socialistas continuarem no poder. Assim o declaram abertamente, manifestando seu acordo com a política atual.

Não temos ilusões e nem podemos tê-las. Esta política pode se manter de uma forma ou de outra, inclusive, se a Fidesz alcançar o poder. A Fidesz também é um partido do grande capital, como o MSZP. A única diferença, entre ambos, é que na base social da Fidesz há muito mais representantes da pequena e média burguesia.

Os comunistas húngaros não devem apoiar esta via, como de fato jamais o faremos. Os comunistas devem saber que a via neoliberal, pró-FMI, piorará as condições do povo e pode levar a uma maior radicalização das massas. Os comunistas devem estar preparados para esta situação. Devemos lutar contra tal sucesso, que conduziria a uma virada radical direitista na política. Não há verdadeiro perigo de que as forças fascistas ou, inclusive, de direita radical cheguem ao poder. As atuais forças extremistas não são suficientemente fortes, e tal fato conduziria a uma imediata intervenção da UE, como pudemos ver na Áustria há alguns anos. Mas existe a ameaça real de que as forças capitalistas utilizem a crise na Hungria e o fortalecimento das forças extremistas de direita para estabelecer uma “ditadura democrática” dirigida a “salvar a democracia”.

No marco da via capitalista de desenvolvimento, também podemos imaginar um rumo que dê mais oportunidades ao capital nacional, às pequenas e médias empresas húngaras. Tampouco podemos descartar a possibilidade de que, para evitar o ressentimento das massas e a aparição de conflitos sociais em grande escala, o capital faça algumas concessões às massas e tente mitigar os problemas econômicos e sociais do povo. Quanto à política exterior, também pode ocorrer que a Hungria siga um rumo mais equilibrado enquanto mantém seu compromisso com a UE e a OTAN. Por exemplo: pode desenvolver relações mais estreitas com países árabes ou latino-americanos. Podemos observar o desenvolvimento de uma alternativa similar dentro do sistema capitalista em muitos países da América Latina.

Essa via é possível nas condições do capitalismo. O atual governo e o Partido Socialista Húngaro se opõem a isto. O principal partido da oposição, Fidesz, que representa os interesses dos capitalistas médios húngaros, expressa sua disposição em pôr limites ao capital multinacional, a apoiar os empresários húngaros e a limitar os rendimentos do grande capital e dar mais às massas. A questão é: se a Fidesz – ao chegar ao poder – realmente levará a cabo tais pretensões ou buscará um acordo com o capital internacional.

Esta via não satisfaz plenamente os interesses da classe operária e as melhorias são unicamente temporárias. Mas esta via oferece algumas vantagens para as massas trabalhadoras. Permite ao PCOH cooperar com a pequena e média burguesia sobre a base da luta comum contra o capital multinacional, os grandes mercados e a exploração estrangeira.

Este rumo terá êxito se formos capazes de transformar o ressentimento popular em força organizada e, assim, forçarmos os governos capitalistas a pôr restrições ao capital. O partido Comunista Operário Húngaro participa da luta sindical, do movimento contra as demissões, nas ações civis para aumentar a influência dos comunistas e instituir as forças do ressentimento das massas.

Lênin escreveu em Duas táticas da socialdemocracia na Revolução democrática: “O proletariado deve levar a cabo a revolução democrática, atraindo a massa do campesinato, para esmagar, pela força, a resistência da autocracia e paralisar a instabilidade da burguesia. O proletariado deve realizar a revolução socialista, atraindo a massa dos elementos semiproletários da população, para destroçar, pela força, a resistência da burguesia e paralisar a instabilidade do campesinato e da pequena burguesia”.

Outra via é a da revolução socialista. Está claro que os problemas básicos da classe operária só podem ser resolvidos na via da revolução socialista que supere o capitalismo. Os comunistas húngaros sempre mantiveram esta posição, mas desde a contrarrevolução de 1989-1990 não havíamos falado da possibilidade da revolução socialista. Agora devemos fazê-lo!

“A atual crise é uma expressão de uma crise mais profunda, intrínseca ao sistema capitalista, que demonstra os limites históricos do capitalismo e a necessidade da sua derrocada revolucionária”. Isto pode ser lido na declaração conjunta dos partidos comunistas e operários em São Paulo. Nossos partidos também declararam: “Ao enfatizar que a bancarrota neoliberal representa não só o fracasso de uma política de gestão do capitalismo, mas o fracasso do próprio capitalismo, e confiantes na superioridade dos ideais e do projeto comunista, afirmamos que a resposta às aspirações emancipatórias dos trabalhadores e dos povos só pode ser achada na ruptura com o poder do grande capital, com os blocos e alianças imperialistas e por meio de profundas transformações de caráter libertador e antimonopolista... Convencidos da possibilidade de outro mundo, um mundo livre da exploração de classe e da opressão do capital, declaramos nosso compromisso com a continuação do caminho histórico de construção de uma nova sociedade livre de exploração de classe e opressão, ou seja, o Socialismo”.

O Partido Comunista Operário Húngaro seguirá a via da revolução socialista. Agora consideramos que nossa tarefa básica e mais importante é demonstrar ao povo húngaro que o capitalismo não é a única forma de vida. Devemos demonstrar que o capitalismo nunca nos dará uma vida melhor, nunca nos dará um lugar nos parlamentos. Devemos obtê-los por meio da luta consequente e séria. Esta via é realista e podemos criar um novo mundo, o socialismo.

Naturalmente, recordamos as palavras de Lênin: “Toda revolução traz uma mudança brusca nas vidas de muitas pessoas. A menos que o momento esteja maduro para tal mudança, nenhuma revolução real pode acontecer”. Agora mesmo não podemos falar de uma situação revolucionária na Hungria, mas podemos falar da possibilidade de que o desenvolvimento geral da crise do capitalismo internacional e suas consequências na Hungria possam levar ao surgimento de uma situação revolucionária.

Consideramos que nossa tarefa principal é preparar o Partido Comunista para tal situação. Fortalecemos nossa formação marxista-leninista. Os membros e ativistas do partido devem entender a atual situação e o verdadeiro significado da via revolucionária.

Estudamos a experiência histórica das revoluções socialistas na Hungria com o objetivo de utilizar as experiências que possam ser aplicadas hoje.

Estudamos a experiência de partidos comunistas da Grécia, Portugal, Brasil, Venezuela e outros países na busca da organização de uma maior atividade das massas.

O partido organiza seus dirigentes sobre novas bases. Estamos criando “centros locais revolucionários” com o equipamento de informática necessário.

Criamos “grupos de combate” móveis que possam participar em diferentes manifestações, ações de rua e atos solidários.

Construímos uma nova organização juvenil com jovens profundamente dedicados à ideia da revolução.

Vamos indo diretamente às fábricas para falar com os trabalhadores. As experiências são muito positivas. Estamos abertos a toda iniciativa anticapitalista e antimonopolista, e participaremos de toda ação social voltada à luta contra os grandes mercados, contra a política de moradia neoliberal, contra os cortes de quem não pode pagar o gás ou a eletricidade.

Criamos um sistema mais efetivo de meios alternativos, utilizando o jornal semanal Szabadsag, a internet e outros meios. Criamos um amplo sistema de páginas web de organizações locais, utilizando a tecnologia do Youtube e outras novas tecnologias da internet.

Lutamos por uma cooperação mais efetiva de forças comunistas no âmbito internacional. O PCOH abandonou o PEE (Partido da Esquerda Europeia) porque não está de acordo com a política revisionista e oportunista do PEE. Temos certeza de que não precisaremos de uma “nova cultura política europeia”, mas sim de uma luta consequente contra o capitalismo, pelos direitos das massas trabalhadoras. Não devemos somente criticar o capitalismo, mas organizar a luta diária dos trabalhadores. Queremos acabar com o capitalismo. A Esquerda Européia quer melhorá-lo. Baseamo-nos no marxismo-leninismo, na teoria e na prática da luta de classes e nos princípios do internacionalismo proletário. A Esquerda Europeia, desgraçadamente, baseia-se no reformismo. A Esquerda Europeia luta contra o capitalismo apenas verbalmente, mas na prática ajuda a fortalecer a imagem “democrática” de uma União Europeia, do Parlamento Europeu e do sistema capitalista em geral.

Lênin disse: “Não se pode predizer o momento e nem o rumo da revolução. Esta é governada por suas próprias leis, mais ou menos misteriosas, mas quando chega é irresistível”. Devemos estar preparados.

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