26 de novembro de 2011

Crise terminal do capitalismo?


Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo. A capacidade de o capitalismo adaptar-se a qualquer circunstância chegou ao fim.

Por Leonardo Boff

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.

A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.

A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.

O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.

Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.

A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.

Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.

As ruas de vários países europeus e árabes, os “indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: “não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumossacerdotes do capital globalizado e explorador.

Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da superexploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.

http://www.fatoexpresso.com.br/

19 de novembro de 2011

Vamos Fazer Dinheiro - Let's Make Money (2008)



(Alemanha, 2008, 108min. - Direção: Erwin Wagenhofer)

Documentário de altíssimo nível, essencial para se entender o mundo em que vivemos pela ótica financeira internacional. Dos mesmos criadores do documentário "We Feed the World".

Apesar de todo o velho discurso feito pelos neoliberais de que a globalização traria benefícios para todos os países ajudando a diminuir a pobreza no 3° Mundo, o que viu-se de fato foi em geral aumento desenfreado da miséria, onde o salário de um indivíduo geralmente mal cobre uma pobre subsistência.

O documentário mostra as chamadas “economias emergentes” por dentro, na visão de grandes investidores, bem como o cotidiano miserável dos homens, mulheres e crianças trabalhadoras nesses países.

Mostra também as idéias do Consenso de Washington, responsável pelas políticas liberais que moldaram nosso mundo econômico atual, assim como os mecanismos de colonização moderna como o FMI e Banco Mundial, perpetuando a injusta dívida dos países mais pobres em troca de suas riquezas. Explica o que são os paraísos fiscais, por onde passa a maioria do capital financeiro para encobrir os donos corruptos.

John Perkins, antigo assassino de economias, que também já apareceu aqui no documentário “The War on Democracy”, explica detalhadamente como era o seu ofício de levar as riquezas de países de 3° Mundo, sob a supervisão das instituições internacionais.

Passa ainda pela miséria que aflora nos EUA e pelas raízes da crise econômica espanhola causada pela bolha imobiliária.

“Na privatização, a sociedade é privada de um determinado bem ou serviço público no qual um investidor está interessado por razões de lucro.”

http://docverdade.blogspot.com/2010/08/vamos-fazer-dinheiro-lets-make-money.html

Falsa democracia...

17 de novembro de 2011

Aluno do vídeo dos 'universitários ignorantes' ameaça processar a Sábado



É um sucesso na internet, mas um dos alunos visados no vídeo 'A ignorância dos nossos universitários' acusa a revista Sábado de manipulação e ameaça com acção legal.

Qual é a capital dos Estados Unidos? «Inglaterra», responde uma aluna universitária inquirida pela revista Sábado num vídeo que faz sucesso na internet. Quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo? «Moisés», responde outro estudante. Quem pintou o tecto da Capela Sistina? «Miguel Arcanjo», respondeu João Ladeiras.

Agora, dezenas de milhares de visualizações e centenas de comentários jocosos depois, João veio explicar a gafe e condenar a jornalista autora do vídeo do momento.

«A verdade é que me fizeram dez perguntas e só mostraram a que eu errei que, como podem comprovar os que se encontravam presentes, acabei por corrigir e responder, então, Miguel Ângelo. Em todo o caso, a minha resposta deveu-se ao simples facto de ter frequentado o Externato São Miguel Arcanjo e, ao mesmo tempo, com a pressão da própria entrevista, dei essa mesma gafe - corrigindo-a assim que [me] apercebi», escreve João numa nota no Facebook.

«Para além de ter sido humilhado como nunca tinha sido até à data, ficou em causa o bom nome da instituição que eu frequento, o ISPA [...]. Acabei por ser vilipendiado em praça pública, sentindo-me completamente desolado», acrescenta o estudante.

Após a publicação do vídeo, que complementa uma reportagem da edição impressa da Sábado sobre o nível de cultura geral dos jovens portugueses, João terá tentado contactar por duas a jornalista daquela publicação, em vão. No Facebook, partilha uma das mensagens enviadas: «'A ignorância dos nossos universitários', se se sentir bem com o trabalho que realizou, digo-lhe, com tristeza, que você e os restantes colegas são ignóbeis. Vou ainda dirigir-me às autoridades competentes para apresentar uma queixa formal sobre o uso indevido da minha entrevista, sabendo você qual a razão dessa mesma denúncia/queixa».

Na sua edição online, a Sábado esclarece que o vídeo resultou de um teste de 20 perguntas, divididas por dois questionários de dificuldade mínima, realizado junto de uma centena de alunos de várias universidades de Lisboa.

Questões como «Quem é Manoel de Oliveira?», «Qual é a capital de Itália?» ou «Qual o maior mamífero do mundo?»ficam sem resposta, ou são retribuídas com palpites insólitos - «É um maestro», «Florença» ou «O elefante em África e o mamute na Antárctida», responderam respectivamente alguns dos inquiridos.

É ainda revelado que há quem pense que o símbolo químico da água é «PH», que «Bush» ainda é Presidente dos Estados Unidos, que «Leonardo Di Caprio» pintou a Mona Lisa, que a Comissão Europeia é presidida por «um francês» e que O Padrinho foi protagonizado por... «Vasco Santana».

SOL

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=34082

A guerra pode ter já recomeçado


A inflamada declaração de Angela Merkel, numa entrevista à televisão pública alemã, ARD, em que sugere a perda de soberania para os países incumpridores das metas orçamentais, bem como a revelação sobre o papel da célebre família alemã Quandt, durante o Terceiro Reich, ligam-se, como peças de puzzle, a uma cadeia de coincidências inquietantes. Gunther Quandt foi, nos anos 40, o patriarca de uma família que ainda hoje controla a BMW e gere uma fortuna de 20 mil milhões de euros. Compaghon de route de Hitler, filiado no partido Nazi, relacionado com Joseph Goebbels, Quandt beneficiou, como quase todos os barões da pesada indústria alemã, de mão-de-obra escrava, recrutada entre judeus, polacos, checos, húngaros, russos, mas também franceses e belgas. Depois da guerra, um seu filho, Herbert, também envolvido com Hitler, salvou a BMW da insolvência, tornando-se, no final dos anos 50, uma das grandes figuras do milagre económico alemão. Esta investigação, que iliba a BMW mas não o antigo chefe do clã Quandt, pode ser a abertura de uma verdadeira caixa de Pandora. Afinal, o poderio da indústria alemã assentaria diretamente num sistema bélico baseado na escravatura, na pilhagem e no massacre. E os seus beneficiários nunca teriam sido punidos, nem os seus empórios desmantelados.

As discussões do pós-Guerra, incluíam, para alguns estrategas, a desindustrialização pura e simples da Alemanha - algo que o Plano Marshal, as necessidades da Guerra Fria e os fundadores da Comunidade Económica Europeia evitaram. Assim, o poderio teutónico manteve-se como motor da Europa. Gunther e Herbert Quandt foram protagonistas deste desfecho.

Esta história invoca um romance recente de um jornalista e escritor de origem britânica, a viver na Hungria, intitulado "O protocolo Budapeste". No livro, Adam Lebor ficciona sobre um suposto diretório alemão, que teria como missão restabelecer o domínio da Alemanha, não pela força das armas, mas da economia. Um dos passos fulcrais seria o da criação de uma moeda única que obrigasse os países a submeterem-se a uma ditadura orçamental imposta desde Berlim. O outro, descapitalizar os Estados periféricos, provocar o seu endividamento, atacando-os, depois, pela asfixia dos juros da dívida, de forma a passar a controlar, por preços de saldo, empresas estatais estratégicas, através de privatizações forçadas. Para isso, o diretório faria eleger governos dóceis em toda a Europa, munindo-se de políticos-fantoche em cargos decisivos em Bruxelas - presidência da Comissão e, finalmente, presidência da União Europeia.

Adam Lebor não é português - nem a narração da sua trama se desenvolve cá. Mas os pontos de contacto com a realidade, tão eloquentemente avivada pelas declarações de Merkel, são irresistíveis. Aliás, "não é muito inteligente imaginar que numa casa tão apinhada como a Europa, uma comunidade de povos seja capaz de manter diferentes sistemas legais e diferentes conceitos legais durante muito tempo." Quem disse isto foi Adolf Hitler. A pax germânica seria o destino de "um continente em paz, livre das suas barreiras e obstáculos, onde a história e a geografia se encontram, finalmente, reconciliadas" - palavras de Giscard d'Estaing, redator do projeto de Constituição europeia.

É um facto que a Europa aparenta estar em paz. Mas a guerra pode ter já recomeçado.


Ler mais: http://aeiou.visao.pt/o-quarto-reich=f625730#ixzz1d3a9m03v

GREVE GERAL

15 de novembro de 2011

Agora percebo a crise


E não é que a culpa toda do que se está a passar em Portugal é do corneteiro do D.Afonso Henriques??

Para quem não conhece a história do Corneteiro… aí vai:

Nos idos tempos do D. Afonso Henriques, após o fim de uma batalha, a força ganhadora tinha direito ao saque (s. m. Acto de saquear. Roubo público…).

Pois bem, após uma dessas batalhas, ganha pelo nosso 1º Rei de Portugal, o seu corneteiro lá tocou para dar início ao dito saque, que por direito tinham as suas tropas. Depois ele voltaria a tocar uma 2ª vez a anunciar o fim do período do saque.

Mas… fruto de alguma maleita ou ferimento, o dito corneteiro finou-se antes de tocar para o fim do saque.

Até hoje ninguém voltou a tocar “fim ao saque”… Afinal a culpa é mesmo do Corneteiro. …

10 de novembro de 2011

Foto da semana .....

O triunfo dos porcos (gordos)


Um perfeito imbecil

Miguel Relvas, o verdadeiro primeiro-ministro do governo do senhor Coelho, em entrevista à TVI, deu a entender que o corte dos subsídios de Natal e de férias pode ser estendido ao sector privado e vigorar, não por dois anos, mas para sempre. Adiantou que "muitos países da União Europeia só têm doze vencimentos", e deu como exemplo a Holanda, a Inglaterra e a Noruega.

O senhor Relvas, ou é estúpido, ou quis fazer de nós estúpidos: ganhando 14 meses, o salário mínimo em Portugal rende anualmente 6.790 Euros; ganhando os tais 12 meses, em Inglaterra rende 11.692 Libras (13.296 Euros), e na Holanda 16.783 Euros (fonte: Wikipedia); na Noruega não há salário mínimo, os salários são fixados por negociações entre patrões e sindicatos, mas a remuneração média mínima era em 2010 de 354 mil Coroas, aproximadamente 46.138 Euros (Fonte: Statistisk sentralbyrå).

É de gente deste jaez que o governo da nação é servido. Não sabem do que falam, não sabem do que tratam, mas decidem. Sempre a favor dos negócios que os lá levaram, mesmo que isso signifique deixar os seus concidadãos na maior das misérias.

De alguém que não sei quem...

PIIGS-------CARTAZ EM BERLIM

"SEU" DEUS. QUE RAÇA DE RELIGIÃO É ESTA???


Laurinda, foi durante décadas, ajudante da “irmã” Maria de Oliveira, uma das fundadoras da Casa das Gaiatas em Fátima, dedicada a apoiar as meninas órfãs ou abandonadas.

Logo que as duas freiras fundadoras morreram e a propriedade passou para o santuário de Fátima, contrariando a vontade expressa por elas, que o anexo onde vivia a Laurinda continuasse a servi-lhe de habitação, a administração do santuário moveu-lhe uma acção de despejo.

Segundo a pobre mulher, nem lhe deram tempo secar os olhos pela morte da “irmã” e já o reitor estava a mandar um advogado identifica-la e pouco depois a mandar fechar a água e a electricidade.

Hoje aquela desgraçada já com 80 anos, encontra-se acamada por doença, e com uma “choruda” reforma de 40 euros, vive da solidariedade dos vizinhos.

Um dá-lhe electricidade, outros oferecem-lhe comida e uma carinhosa amiga vai buscar água à fonte, para ela se lavar.

"Talvez" seja exagerar um pouco, mas se calhar não faltará muito para a Reitoria do Santuário lhe dar tratamento semelhanteao que ordena aos seguranças para darem aos cães vadios que aparecem por Fátima, ou seja que os coloquem na caixa que fica nas traseiras do Santuário ao frio, à chuva, ou à chapa do sol, num espaço mínimo, onde a maioria nem se consegue colocar de pé, até que a carrinha da Câmara de Ourem os venha buscar, normalmente muito debilitados, para o abate.

Sabemos que o Santuário de Fátima, tem uma receita descomunal, mas desde 2006 não se sabe exactamente quanto é, pois artificiosamente não prestam contas, desculpando-se que esse aspecto da Concordata, não está regulamentado.

As últimas receitas que deram conhecimento em 2005, foram de mais de 17 milhões de euros, totalmente isentos de impostos..

Já nessa altura tinham gasto 55 milhões na Catedral, certamente para corresponder aos desejos expressos pela “Nossa Senhora” aos pastorinhos “que queria que lhe fizessem uma Capela na Cova da Iria”.

ESTA IMORALIDADE TORNA-SE, ATÉ NO SEU ASPECTO FINANCEIRO, OBSCENA E INACEITÁVEL !!!

Líderes da máxima de Frei Tomás, "Faz o que ele diz...não faças o que ele faz" como é por exemplo, o administrador apostólico da vizinha diocese de Portalegre, que chega ao extremo provocatório nesta altura de exortar “os cristãos a não conciliarem, por vezes com atitudes dúbias ou até de ignorância, o que é inconciliável: Deus e o dinheiro” “O dinheiro deve ser usado para organizar a vida e para ajudar os outros a fazerem o mesmo.”

OS FIÉIS DA IGREJA CATÓLICA QUE TIREM AS SUAS CONCLUSÕES, NUMA ALTURA EM QUE AS DIFICULDADES JÁ ATINGEM DURAMENTE A CLASSE MÉDIA, ACENANDO-LHE NO HORIZONTE COM A POBREZA DE MUITOS MILHÕES DE PORTUGUESES.

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/santuario-quer-despejar-idosa

Proposta de Orçamento de estado e o impacto para os enfermeiros

5 de novembro de 2011

A crise explicada com burros...!!!

Já Colbert sabia como era ...


Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault:

Colbert: - Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…

Mazarino: - Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado… é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!

Colbert: - Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: - Criando outros.

Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: - Sim, é impossível.

Colbert: - E sobre os ricos?

Mazarino: - Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: - Então como faremos?

Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer, e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

O processo de privatização do Sector Público de Transportes

«No bolso deles estão os teus sacrifícios» - Tempo de Antena do PCP

1 de novembro de 2011

A TAXA CAMARAE DO PAPA LEÃO X


UM DOS PONTOS CULMINANTES DA CORRUPÇÃO HUMANA

A Taxa Camarae é um tarifário promulgado, em 1517, pelo papa Leão X (1513-1521) destinado a vender indulgências, ou seja, o perdão dos pecados, a todos quantos pudessem pagar umas boas libras ao pontífice. Como veremos na transcrição que se segue, não havia delito, por mais horrível que fosse, que não pudesse ser perdoado a troco de dinheiro. Leão X declarou aberto o céu para todos aqueles, fossem clérigos ou leigos, que tivessem violado crianças e adultos, assassinado uma ou várias pessoas, abortado… desde que se manifestassem generosos com os cofres papais.

Vejamos o seus trinta e cinco artigos:

1. O eclesiástico que cometa o pecado da carne, seja com freiras, seja com primas, sobrinhas ou afilhadas suas, seja, por fim, com outra mulher qualquer, será absolvido, mediante o pagamento de 67 libras, 12 soldos.

2. Se o eclesiástico, além do pecado de fornicação, quiser ser absolvido do pecado contra a natureza ou de bestialidade, deve pagar 219 libras, 15 soldos. Mas se tiver apenas cometido pecado contra a natureza com meninos ou com animais e não com mulheres, somente pagará 131 libras, 15 soldos.

3. O sacerdote que desflorar uma virgem, pagará 2 libras, 8 soldos.

4. A religiosa que quiser alcançar a dignidade de abadessa depois de se ter entregue a um ou mais homens simultânea ou sucessivamente, quer dentro, quer fora do seu convento, pagará 131 libras, 15 soldos.

5. Os sacerdotes que quiserem viver maritalmente com parentes, pagarão 76 libras e 1 soldo.

6. Para todos os pecados de luxúria cometido por um leigo, a absolvição custará 27 libras e 1 soldo; no caso de incesto, acrescentar-se-ão em consciência 4 libras.

7. A mulher adúltera que queira ser absolvida para estar livre de todo e qualquer processo e obter uma ampla dispensa para prosseguir as suas relações ilícitas, pagará ao Papa 87 libras e 3 soldos. Em idêntica situação, o marido pagará a mesma soma; se tiverem cometido incesto com os seus filhos acrescentarão em consciência 6 libras.

8. A absolvição e a certeza de não serem perseguidos por crimes de rapina, roubo ou incêndio, custará aos culpados 131 libras e 7 soldos.

9. A absolvição de um simples assassínio cometido na pessoa de um leigo é fixada em 15 libras, 4 soldos e 3 dinheiros.

10. Se o assassino tiver morto a dois ou mais homens no mesmo dia, pagará como se tivesse apenas assassinado um.

11. O marido que tiver dado maus tratos à sua mulher, pagará aos cofres da chancelaria 3 libras e 4 soldos; se a tiver morto, pagará 17 libras, 15 soldos; se o tiver feito com a intenção de casar com outra, pagará um suplemento de 32 libras e 9 soldos. Se o marido tiver tido ajuda para cometer o crime, cada um dos seus ajudantes será absolvido mediante o pagamento de 2 libras.

12. Quem afogar o seu próprio filho pagará 17 libras e 15 soldos [ou seja, mais duas libras do que por matar um desconhecido (observação do autor do livro)]; caso matem o próprio filho, por mútuo consentimento, o pai e a mãe pagarão 27 libras e 1 soldo pela absolvição.

13. A mulher que destruir o filho que traz nas entranhas, assim como o pai que tiver contribuído para a perpetração do crime, pagarão cada um 17 libras e 15 soldos. Quem facilitar o aborto de uma criatura que não seja seu filho pagará menos 1 libra.

14. Pelo assassinato de um irmão, de uma irmã, de uma mãe ou de um pai, pagar-se-á 17 libras e 5 soldos.

15. Quem matar um bispo ou um prelado de hierarquia superior terá de pagar 131 libras, 14 soldos e y6 dinheiros.

16. O assassino que tiver morto mais de um sacerdote, sem ser de uma só vez, pagará 137 libras e 6 soldos pelo primeiro, e metade pelos restantes.

17. O bispo ou abade que cometa homicídio põe emboscada, por acidente ou por necessidade, terá de pagar, para obter a absolvição, 179 libras e 14 soldos.

18. Quem quiser comprar antecipadamente a absolvição, por todo e qualquer homicídio acidental que venha a cometer no futuro, terá de pagar 168 libras, 15 soldos.

19. O herege que se converta pagará pela sua absolvição 269 libras. O filho de um herege queimado, enforcado ou de qualquer outro modo justiçado, só poderá reabilitar-se mediante o pagamento de 218 libras, 16 soldos, 9 dinheiros.

20. O eclesiástico que, não podendo saldar as suas dívidas, não quiser ver-se processado pelos seus credores, entregará ao pontífice 17 libras, 8 soldos e 6 dinheiros, e a dívida ser-lhe-á perdoada.

21. A licença para instalar pontos de venda de vários géneros, sob o pórtico das igrejas, será concedida mediante o pagamento de 45 libras, 19 soldos e 3 dinheiros.

22. O delito de contrabando e as fraudes relativas aos direitos do príncipe contarão 87 libras e 3 dinheiros.

23. A cidade que quiser obter para os seus habitantes ou para os seus sacerdotes, frades ou monjas autorização de comer carne e lacticínios nas épocas em que está vedado fazê-lo, pagará 781 libras e 10 soldos.

24. O convento que quiser mudar de regra e viver com menos abstinência do que a que estava prescrita, pagará 146 libras e 5 soldos.

25. O frade que para sua maior conveniência, ou gosto, quiser passar a vida numa ermida com uma mulher, entregará ao tesouro pontifício 45 libras e 19 soldos.

26. O apóstata vagabundo que quiser viver sem travas pagará o mesmo montante pela absolvição.

27. O mesmo montante terá de pagar o religioso, regular ou secular, que pretenda viajar vestido de leigo.

28. O filho bastardo de um prior que queira herdar a cura de seu pai, terá de pagar 27 libras e 1 soldo.

29. O bastardo que pretenda receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagará 15 libras, 18 soldos e 6 dinheiros.

30. O filho de pais incógnitos que pretenda entrar nas ordens pagará ao tesouro pontifício 27 libras e 1 soldo.

31. Os leigos com defeitos físicos ou disformes, que pretendam receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagarão à chancelaria apostólica 58 libras e 2 soldos.

32. Igual soma pagará o cego da vista direita, mas o cego da vista esquerda pagará ao Papa 10 libras e 7 soldos. Os vesgos pagarão 45 libras e 3 soldos.

33. Os eunucos que quiserem entrar nas ordens, pagarão a quantia de 310 libras e 15 soldos.

34. Quem por simonia quiser adquirir um ou mais benefícios deve dirigir-se aos tesoureiros do Papa que lhos venderão por um preço moderado.

35. Quem por ter quebrado um juramento quiser evitar qualquer perseguição e ver-se livre de qualquer marca de infâmia, pagará ao Papa 131 libras e15 soldos. Pagará ainda por cada um dos seus fiadores a quantia de 3 libras.

No entanto, para a historiografia católica, o Papa Leão X, autor de um exemplo de corrupção tão grande como o que acabamos de ler, passa por ser o protagonista da «história do pontificado mais brilhante e talvez o mais perigoso da história da Igreja».

(Fonte: Rodríguez, Pepe (1997). Mentiras fundamentais da Igreja católica.
Terramar – Editores, Distribuidores e Livreiros -
(1.ª edição portuguesa, Terramar, Outubro de 2001 – Anexo, pp. 345-348)

NOTA: Esta é a primeira vez que a Taxa Camarae do papa Leão X aparece na NET em português.