29 de dezembro de 2010

Dona Abastança


Manuel da Fonseca e a caridadezinha tão em voga ao longo de todos os tempos.

Dona Abastança

«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador

Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»


Já se deixa ver

Que não pode ser
Quem
O que tem

Dá a pedir vem.


O bem da bolsa lhes sai

E sai caro fazer o bem

Ela dá ele subtrai

Fazem como lhes convém

Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem

Fazendo mais e mais pobres.


Já se deixa ver

Que não pode ser

Dar

Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou

Sempre ao bem-fazer foi dado

Pouco custa a quem roubou

Dar pouco a quem foi roubado.


Oh engano sempre novo

De tão estranha caridade

Feita com dinheiro do povo

Ao povo desta cidade.


Manuel da Fonseca

2 comentários:

O Puma disse...

Nosso querido e saudoso

Manuel da Fonseca

com quem privei tantos caminhos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Se houvesse justiça social não haveria quem estendesse a mão à caridade.
E quem provoca ou participa da injustiça, vem muitas vezes vestido de bom samaritano com essa caridade de elites que é aviltante por tudo aquilo que encerra.
Belo poema de Manuel da Fonseca.

Abraço