14 de dezembro de 2010

Os Putos


Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.

Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.

As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo

Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.

José Carlos Ary dos Santos,

3 comentários:

Justine disse...

O poema/canção que marcou um período exaltante da minha vida. E que continua com a mesma frescura da primeira vez que a li/ouvi.
(Obrigada pela visita ao Quarteto)

Sara disse...

Obrigada pela sua visita ao meu blogue e pelo seu comentário.
Aqui encontro este poema lindíssimo acerca de um período da nossa vida prenhe de esperança e possibilidade. "É a ternura que volta"...

via disse...

os putos continuam a andar por aí!