26 de setembro de 2012

Breve história dos Resgates Financeiros: Miséria e a Saida das Crises pela Resistência


O esquema imperialista de saque de impostos para financiar o centro capitalista nem sequer é novo. Serviu por mais de cem anos para extorquir rendimentos ao chamado Terceiro Mundo. Actualmente o esquema obrigacionista de todos os cidadãos pagarem um tributo ao Império chegou à Europa pela emissão de “dividas soberanas”, isto é, os gerentes do Euro reforçam a sua aliança com os emissores de Dólares, a moeda global cuja emissão só por si já é a emissão de um imposto global.
Fala-se de resgates de muitos milhões de euros, de acções de risco, dívida bancária, défices por contas correntes, etc. porém raramente se analisam em profundidade as consequências sociais que essas “ajudas” acarretam nem dos processos de luta que se desencadeiam antes, durante e depois.
 
“Quando instituições do tipo do FMI, Banco Mundial ou o BCE falam de resgates, na realidade o que querem dizer é um financiamento das dívidas privadas mediante a destruição dos serviços públicos, ataques às condições laborais, redução das pensões e deteriorização social e ambiental. Neste sentido é importante entender que a intenção de fundo do 1% dos que governam o mundo é conseguirem ficar ainda mais ricos depois da crise, ainda que alguns deles caiam. 
A partir daí, entende-se facilmente que os chamados resgates, anteriormente chamados “planos de ajuste estrutural”, só agravam as crises dos países saqueados, desencadeando no entanto um processo de polarização social e fortes lutas.
Nos finais dos anos 70 o ciclo económico de expansão que se seguiu à Segunda Guerra Mundial chegou ao fim. Durante este período a economia armamentista permanente – a produção massiva de armas – e a reconstrução da Europa haviam permitido o desenvolvimento económico capitalista sob as directrizes do keynesianismo (militar). 

 Quer dizer, foi mediante politicas de aumento da procura que se pretendia desenvolver a economia. Teorizava-se então que os salários relativamente altos permitiam o aumento do consumo e, portanto, a expansão da economia. Sem dúvida, estas politicas não foram capazes de travar a deterioração económica dos anos 70 e princípios de 80, uma vez que, fruto da sua irracionalidade, o capitalismo tende irremediavelmente para a crise crónica.
Nesse momento, os agora chamados Neoliberais, encabeçados por Milton Friedman, tiveram a sua opor- tunidade. No livro de Naomi Klein, “A Doutrina de Choque”, descreve-se como os “Chicago Boys” (discípulos de Friedman) aproveitaram os golpes-de-estado na América Latina para poder experimentar as suas teorias económicas. 

Assim, os generais golpistas argentinos assassinaram 30.000 militantes de partidos de esquerda para aplicar um “pacote financeiro”, que era como se chamavam os “resgates” naquela época. 

Em toda a América Latina e em grande parte de África impuseram-se ditaduras apoiadas pela CIA e assessoradas pelos Chicago Boys. As condições são as mesmas que hoje são sobejamente conhecidas (particularmente na Europa onde recentemente chegou a obrigação de pagar a crise do Império): cortes nos défices mediante privatizações de serviços públicos, enorme esforço popular para pagar a dívida externa (cada português “deve” mais de 2.400 euros), baixa de salários e menos impostos para os ricos. Tudo isto dando-se ares de restaurar o crédito e converter os Estados em locais ideiais para os negócios.
As consequências foram desastrosas para a maioria da população. De acto, os anos 80 ficaram conhecidos na America do Sul como uma década perdida. Os Estados afectados pelos resgates viram reduzidos todos os seus indicadores de desenvolvimento humano, esperança de vida, percentagens de pobreza, alfabetização, habitação, etc. Na Grécia, depois de três anos de resgates a esperança de vida regrediu cinco anos desde o primeiro resgate e um terço da população vive abaixo do limiar de pobreza. 

Aqui começamos a ver como depois dos cortes na Saúde começa a diminuir, pela primeira vez em 35 anos, a esperança de vida. Cada resgate piorou a situação económica geral enquanto a riqueza se tem concentrado cada vez em menos mãos. As receitas da União Europeia seguidas fielmente pelo neocon Rajoy em Espanha apenas confirmam o agravamento da situação económica e, mais grave, a vida das pessoas.
Um aspecto chave a analisar são as resistências criadas nos países que sofreram os “resgates”. Na Grécia já houve 19 greves gerais, o que permitiu, por exemplo, que existam durante alguns períodos centros de saúde auto-gestionados pelos trabalhadores que atendem gratuitamente a população. E também o bloqueio que impossibilitou o governo grego de privatizar serviços públicos para conseguir angariar 50.000 milhões. 

Na América Latina, desde o caracazo venezuelano de 1989 – qualificado como a primeira revolta urbana contra os “planos de ajuste estrutural” – inaugurou-se uma década de resistências, como a vitoriosa Comuna de Cochabamba na Bolívia contra a privatização da água (incluindo a das chuvas). 

Os exemplos de maior êxito deram-se em países que mediante revoltas populares conseguiram derrotar os governos que obedeciam a “memorandos de entendimento”, como a Argentina em 2001, e cujos exemplos mais avançados levaram ao poder governos sociais-democratas revolucionários no Equador e na Venezuela – os quais estão a inverter muitas das consequências dos resgates.
 
É porém importante assinalar que estes governos apenas rompem a hegemonia dos grandes partidos tradicionais devido aos enormes processos de lutas populares, os quais actualmente enfrentam graves e insolúveis contradições ao intentar conjugar justiça social e capitalismo”

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