«Nem de propósito... Tal Grécia, tal
Portugal.
Carta aberta de um estudante liceal
grego (Traduzida de "Echte Democratie Jetzt")»:
Aos meus professores... e aos outros:
O meu nome é K. M., sou aluno do
último ano num liceu em Drapetsona, Pireu.
Decidi escrever este texto porque
quero exprimir a minha fúria, a minha revolta pelo atrevimento e pela hipocrisia
daqueles que nos governam e daqueles jornalistas e media mainstream que os
ajudam a pôr em prática os seus planos ilegais e imorais em detrimento dos
alunos, dos estudantes e de todos jovens.
A minha razão para escrever é a
intenção dos meus professores de fazer greve durante o período dos exames de
admissão à Universidade e os políticos e jornalistas que choram lágrimas de
crocodilo sobre o meu futuro, o qual "estaria em causa" devido à greve.*
De que falam vocês? Que espécie de
futuro tenho eu devido a vocês? E quem é que verdadeiramente pôs em causa o meu
futuro?
Deitemos uma vista de olhos sobre
quem, já há muito tempo, constrói o futuro e toda a nossa vida:
- Quem construiu o futuro do meu avô?
- Quem vestiu o seu futuro com as
roupas velhas da administração das Nações Unidas para a ajuda de emergência e
reconstrução e o obrigou a emigrar para a Alemanha?
- Quem governou mal e estripou este
país?
- Quem obrigou a minha mãe a trabalhar
do nascer ao pôr-de-sol por 530 euros por mês? Dinheiro que, uma vez paga a
comida e as contas, nem chega para um par de sapatos, para já não falar num
livro usado que eu queria comprar numa feira de rua.
- Quem reduziu a metade o ordenado do
meu pai?
- Quem o caluniou, quem o ameaçou,
quem o obrigou a regressar ao trabalho sob a ameaça da requisição civil, quem o
ameaçou de despedimento, juntamente com todos os seus colegas dos serviços de
transportes públicos quando eles, que apenas queriam viver com dignidade,
entraram em greve?
- Quem procurou encerrar a
universidade que o meu irmão frequenta para atingir alguns dos seus sonhos?
- Quem me deu fotocópias em vez de
manuais escolares?
- Quem me deixa enregelar na minha
sala de aula sem aquecimento?
- Quem carrega com a culpa de os
alunos das escolas desmaiarem de fome?
- Quem lançou tanta gente no
desemprego?
- Quem conduziu 4.000 pessoas ao
suicídio?
- Quem manda de volta para casa os
nossos avós sem cuidados médicos e sem medicamentos?
Foram os meus professores que fizeram
tudo isto? Ou foram VOCÊS que fizeram tudo isto?
Vocês dizem que os meus professores
vão destruir os meus sonhos fazendo greve.
Quem vos disse alguma vez que o meu
sonho é ser mais um desempregado entre os 67% de jovens que estão no desemprego?
Quem vos disse que o meu sonho é
trabalhar sem segurança social e sem horários regulares por 350 euros por mês,
como determinam as vossas mais recentes alterações às leis laborais?
Quem vos disse que o meu sonho é
emigrar por razões económicas? Quem vos disse que o meu sonho é ser moço de
recados?
Gostaria de dirigir algumas palavras
aos meus professores e aos professores em toda a Grécia:
Professores, vocês NÃO devem recuar um
único passo no vosso compromisso para connosco. Se recuarem agora na vossa luta,
então sim, estarão verdadeiramente a pôr em causa o meu futuro. Estarão a
hipotecá-lo.
Qualquer recuo vosso, qualquer vitória
que o governo obtenha, roubará o meu sorriso, os meus sonhos, a minha esperança
numa vida melhor e em combater por uma sociedade mais humana.
Aos meus pais, aos meus colegas e à
sociedade em geral tenho a dizer o seguinte:
Quereis verdadeiramente que aqueles
que nos ensinam vivam na miséria?
Quereis que sejamos moldados nas salas
de aulas como mercadorias de produção maciça?
Quereis que eles fechem cada vez mais
escolas e construam cada vez mais prisões?
Ides deixar os nossos professores
sozinhos nesta luta? É para isso que nos educais, para que recusemos a nossa
solidariedade?
Quereis que os nossos professores
sejam para nós um exemplo de respeito por nós próprios, de dignidade e de
militância cívica? Ou preferis que nos dêem um exemplo de escravidão consentida?
Finalmente, quereis que vivamos como
escravos?
De amanhã em diante, todos os alunos e
pais deviam ocupar-se de apoiar os professores com uma palavra de ordem:
"Avançar e derrotar a tirania fascista!"
Lutemos juntos por uma educação de
qualidade, pública e livre. Lutemos juntos para derrubar aqueles que roubam o
nosso riso e o riso dos vossos filhos.
PS: Menciono as minhas notas do ano
lectivo 2011/12, não por vaidade mas para cortar a palavra àqueles que avançarem
com o argumento ridículo de que "só quero escapar às aulas": Comportamento do
aluno: "Muito Bom". Classificação média: 20 ("Excelente") [a nota mais alta nos
liceus gregos].
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