23 de agosto de 2012
5 de agosto de 2012
Alemanha... e a falta de memória!
Em
1953, a Alemanha de Konrad Adenauer entrou em default, falência, ficou Kaput,
ou seja, ficou sem dinheiro para fazer mover a actividade económica do país.
Tal qual como a Grécia actualmente.
A Alemanha
negociou 16 biliões de marcos em dívidas de 1920 que entraram em incumprimento
na década de 30 após o colapso da bolsa em Wall Street. O dinheiro tinha-lhe
sido emprestado pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido.
Outros
16 biliões de marcos diziam respeito a empréstimos dos EUA no pós-guerra, no
âmbito do Acordo de Londres sobre as Dívidas Alemãs (LDA), de 1953. O total a
pagar foi reduzido 50%, para cerca de 15 biliões de marcos, por um período de
30 anos, o que não teve quase impacto na crescente economia alemã.
O
resgate alemão foi feito por um conjunto de países que incluíam a Grécia,
a Bélgica, o Canadá, Ceilão, a Dinamarca, França, o Irão, a Irlanda, a Itália,
o Liechtenstein, o Luxemburgo, a Noruega, o Paquistão, a Espanha, a Suécia, a
Suíça, a África do Sul, o Reino Unido, a Irlanda do Norte, os EUA e a
Jugoslávia.
As
dívidas alemãs eram do período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial.
Algumas decorriam do esforço de reparações de guerra e outras de empréstimos
gigantescos norte-americanos ao governo e às empresas.
Durante 20 anos,
como recorda esse acordo, Berlim não honrou
qualquer pagamento da dívida.
Por
incrível que pareça, apenas oito anos depois de a Grécia ter sido invadida e
brutalmente ocupada pelas tropas nazis, Atenas aceitou participar no esforço
internacional para tirar a Alemanha da terrível bancarrota em que se
encontrava.
Ora
os custos monetários da ocupação alemã da Grécia foram estimados em 162 biliões
de euros sem juros. Após a guerra, a Alemanha ficou de compensar a Grécia por
perdas de navios bombardeados ou capturados, durante o período de neutralidade,
pelos danos causados à economia grega e pagar compensações às vítimas do
exército alemão de ocupação.
As vítimas gregas foram mais de um milhão de pessoas (38960
executadas, 12 mil abatidas, 70 mil mortas no campo de batalha, 105 mil em
campos de concentração na Alemanha, e 600 mil que pereceram de fome). Além
disso, as hordas nazis roubaram tesouros arqueológicos gregos de valor
incalculável.
Qual
foi a reacção da direita parlamentar alemã aos actuais problemas financeiros da
Grécia?
Segundo
aquela, a Grécia devia considerar vender terras, edifícios históricos e
objectos de arte para reduzir a sua dívida.
Além
de tomar as medidas de austeridade impostas, como cortes no sector público e
congelamento de pensões, os gregos deviam vender algumas ilhas, defenderam dois
destacados elementos da CDU, Josef Schlarmann e Frank Schaeffler, do partido da
chanceler Merkel.
Os
dois responsáveis chegaram a alvitrar que o Partenon, e algumas ilhas gregas no
Egeu, fossem vendidas para evitar a bancarrota. "Os que estão insolventes
devem vender o que possuem para pagar aos seus credores", disseram ao
jornal Bild. Depois disso, surgiu no seio do executivo a ideia peregrina
de pôr um comissário europeu a fiscalizar permanentemente as contas gregas em
Atenas.
O
historiador Albrecht Ritschl, da London School of Economics, recordou
recentemente à Spiegel que a Alemanha foi o pior país devedor do século
XX. O economista destaca que a insolvência germânica dos anos 30 faz a dívida
grega de hoje parecer insignificante.
"No
século XX, a Alemanha foi responsável pela maior bancarrota de que há
memória", afirmou. "Foi apenas graças aos Estados Unidos, que
injectaram quantias enormes de dinheiro após a Primeira e a Segunda Guerra
Mundial, que a Alemanha se tornou financeiramente estável e hoje detém o
estatuto de locomotiva da Europa. Esse facto, lamentavelmente, parece
esquecido", sublinha Ritsch.
O
historiador sublinha que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais, a
segunda
de aniquilação e extermínio, e depois os seus inimigos perdoaram-lhe
totalmente o pagamento das reparações ou adiaram-nas.
A
Grécia não esquece que a Alemanha deve a sua prosperidade económica a outros
países.
Por isso, alguns parlamentares gregos sugerem que seja feita a
contabilidade das dívidas alemãs à Grécia para que destas se desconte o que a
Grécia deve actualmente.
A
ocultação da história é uma boa maneira de enganar povos
2 de agosto de 2012
UMA CLASSE ZOMBIE E UM MINISTRO BÁRBARO
por Santana Castilho a Quarta-feira, 18 de
Julho de 2012
Porque as matrículas e a constituição de turmas que delas derivam não estavam concluídas a 13 de Julho.
Porque os créditos de horas a atribuir às escolas, em função da deriva burocrática e delirante de Nuno Crato, não eram ainda conhecidos e a responsabilidade não é de mais ninguém senão dele próprio e dos seus ajudantes incompetentes.
Não se conhecendo o número de turmas, não se conhecendo os cursos escolhidos pelos alunos e portanto as correspondentes disciplinas, não se conhecendo os referidos créditos, como se poderia calcular o número de professores? Mas, apesar de ilegítima, a ordem foi cumprida por directores dúcteis.
Como fizeram? Indicaram, por larguíssimo excesso, horários zero.
Milhares de professores dos “quadros” foram obrigados, assim, a concorrer a outras escolas por uma inexistência de serviço na sua, que se vai revelar falsa a breve trecho.
Serão “repescados” mais tarde, mas ficarão até lá sujeitos a uma incerteza e a uma ansiedade evitáveis.
Por que foi isto feito?
Que sentido tem esta humilhação?
Incapacidade grosseira de planeamento? Incompetência? Irresponsabilidade? Perfídia?
Que férias vão ter estes professores, depois de um ano-lectivo esgotante?
Em que condições anímicas se apresentarão para iniciar o próximo, bem pior?
Que motivação os animará, depois de tamanha indignidade de tratamento, depois de terem a prova provada de que Nuno Crato não os olha como professores mas, tão-só, como reles proletários descartáveis?
É de bárbaro sujeitar famílias inteiras a esta provação dispensável. É de bárbaro a insensibilidade demonstrada.
Depois do roubo dos subsídios, do aumento do horário de trabalho, da redução bruta dos tempos para gerir agrupamentos e turmas, da tábua rasa sobre os grupos de recrutamento com essa caricatura de rigor baptizada de “certificação de idoneidade”, da menorização ignara da Educação Física e do desporto escolar, da supina cretinice administrativa da fórmula com que o ministro quer medir tudo e todos, da antecipação ridícula de exames para o início do terceiro período e do folclórico prolongamento do ano-lectivo por mais um mês, esta pulseira electrónica posta na dignidade profissional dos professores foi demais.
Todas as medidas de intervenção no sistema de ensino impostas por Nuno Crato têm um objectivo dominante: reduzir professores e consequentes custos de funcionamento.
O aumento do número de alunos por turma fará crescer o insucesso escolar e a indisciplina na sala de aula. Mas despede professores.
A revisão curricular, sem nexo, sem visão sistémica, capciosa no seu enunciado, que acabou com algumas disciplinas e diminuiu consideravelmente as horas de outras, particularmente no secundário, não melhorará resultados, nem mesmo nas áreas reforçadas em carga horária. Mas despede professores.
Uma distribuição de serviço feita agora ao minuto, quando antes era feita por “tempos-lectivos”, vai adulterar fortemente a continuidade da leccionação das mesmas turmas, em anos consecutivos, pelos mesmos professores (turmas de continuidade), com previsível diminuição dos resultados dos alunos. Mas despede professores.
As modificações impostas à chamada “oferta formativa qualificante”, mandando às urtigas a propalada autonomia das escolas, substituídas nas decisões pelas “extintas” direcções-regionais (cuja continuidade já está garantida, com mudança de nome) não melhora o serviço dispensado aos alunos. Mas despede professores.
Ao que acima se enunciou, a classe tem assistido em letargia zombie.
Não são pequenas ousadias kitsch ou jograis conjuntos de federações sindicais, federações de associações de pais e associações de directores, carpindo angústias e esmagamentos, que demovem a barbárie.
Só a paramos com iniciativas que doam.
Os professores têm a legitimidade profissional de defender os interesses da classe. Digo da classe, que não de cada um dos grupos dentro da classe. E têm a responsabilidade cívica de defender a Escola Pública, constitucionalmente protegida.
Crato vai estatelar-se e perder-se no labirinto que criou para o ano-lectivo próximo. Perdidos tantos outros, é o tempo propício para um novo discurso político, orientador e agregador da classe.
A quem fala manso e age duro, urge responder com maior dureza.
Lamento ter que o dizer, mas há limites para tudo.
Como? Assim a classe me ouvisse. Crato vergava num par de semanas.
In "Público" de 18.7.12
Numa sexta-feira, 13, a tampa de um enorme
esgoto foi aberta ante a complacência de uma classe que parece morta em vida.
Nuno Crato exigiu e ameaçou: até 13 de Julho,
os directores dos agrupamentos e das escolas que restam tiveram que indicar o
número de professores que não irão ter horário no próximo ano-lectivo.
Se não indicassem um só docente que pudesse vir
a ficar sem serviço, sofreriam sanções.
Esta ordem foi ilegítima.
Porque as matrículas e a constituição de turmas que delas derivam não estavam concluídas a 13 de Julho.
Porque os créditos de horas a atribuir às escolas, em função da deriva burocrática e delirante de Nuno Crato, não eram ainda conhecidos e a responsabilidade não é de mais ninguém senão dele próprio e dos seus ajudantes incompetentes.
Não se conhecendo o número de turmas, não se conhecendo os cursos escolhidos pelos alunos e portanto as correspondentes disciplinas, não se conhecendo os referidos créditos, como se poderia calcular o número de professores? Mas, apesar de ilegítima, a ordem foi cumprida por directores dúcteis.
Como fizeram? Indicaram, por larguíssimo excesso, horários zero.
Milhares de professores dos “quadros” foram obrigados, assim, a concorrer a outras escolas por uma inexistência de serviço na sua, que se vai revelar falsa a breve trecho.
Serão “repescados” mais tarde, mas ficarão até lá sujeitos a uma incerteza e a uma ansiedade evitáveis.
Por que foi isto feito?
Que sentido tem esta humilhação?
Incapacidade grosseira de planeamento? Incompetência? Irresponsabilidade? Perfídia?
Que férias vão ter estes professores, depois de um ano-lectivo esgotante?
Em que condições anímicas se apresentarão para iniciar o próximo, bem pior?
Que motivação os animará, depois de tamanha indignidade de tratamento, depois de terem a prova provada de que Nuno Crato não os olha como professores mas, tão-só, como reles proletários descartáveis?
É de bárbaro sujeitar famílias inteiras a esta provação dispensável. É de bárbaro a insensibilidade demonstrada.
Depois do roubo dos subsídios, do aumento do horário de trabalho, da redução bruta dos tempos para gerir agrupamentos e turmas, da tábua rasa sobre os grupos de recrutamento com essa caricatura de rigor baptizada de “certificação de idoneidade”, da menorização ignara da Educação Física e do desporto escolar, da supina cretinice administrativa da fórmula com que o ministro quer medir tudo e todos, da antecipação ridícula de exames para o início do terceiro período e do folclórico prolongamento do ano-lectivo por mais um mês, esta pulseira electrónica posta na dignidade profissional dos professores foi demais.
Todas as medidas de intervenção no sistema de ensino impostas por Nuno Crato têm um objectivo dominante: reduzir professores e consequentes custos de funcionamento.
O aumento do número de alunos por turma fará crescer o insucesso escolar e a indisciplina na sala de aula. Mas despede professores.
A revisão curricular, sem nexo, sem visão sistémica, capciosa no seu enunciado, que acabou com algumas disciplinas e diminuiu consideravelmente as horas de outras, particularmente no secundário, não melhorará resultados, nem mesmo nas áreas reforçadas em carga horária. Mas despede professores.
Uma distribuição de serviço feita agora ao minuto, quando antes era feita por “tempos-lectivos”, vai adulterar fortemente a continuidade da leccionação das mesmas turmas, em anos consecutivos, pelos mesmos professores (turmas de continuidade), com previsível diminuição dos resultados dos alunos. Mas despede professores.
As modificações impostas à chamada “oferta formativa qualificante”, mandando às urtigas a propalada autonomia das escolas, substituídas nas decisões pelas “extintas” direcções-regionais (cuja continuidade já está garantida, com mudança de nome) não melhora o serviço dispensado aos alunos. Mas despede professores.
Ao que acima se enunciou, a classe tem assistido em letargia zombie.
Não são pequenas ousadias kitsch ou jograis conjuntos de federações sindicais, federações de associações de pais e associações de directores, carpindo angústias e esmagamentos, que demovem a barbárie.
Só a paramos com iniciativas que doam.
Os professores têm a legitimidade profissional de defender os interesses da classe. Digo da classe, que não de cada um dos grupos dentro da classe. E têm a responsabilidade cívica de defender a Escola Pública, constitucionalmente protegida.
Crato vai estatelar-se e perder-se no labirinto que criou para o ano-lectivo próximo. Perdidos tantos outros, é o tempo propício para um novo discurso político, orientador e agregador da classe.
A quem fala manso e age duro, urge responder com maior dureza.
Lamento ter que o dizer, mas há limites para tudo.
Como? Assim a classe me ouvisse. Crato vergava num par de semanas.
In "Público" de 18.7.12
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